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O Erotismo, de Georges Bataille

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O erotismo parece ter perdido um sentido positivo em nossos tempos. Hoje em dia, o senso comum atribui ao ato erótico uma sensualidade ligada à pornografia, que se veicula a uma ultra-exposição de um processo sexual, exposto translucidamente, que leva diretamente a satisfação do prazer e, por fim, a uma “perda” do evento erótico. Georges Bataille, na década de 30, se apropriou desta perda para refaze-la em outras configurações e tornou o erotismo não uma negatividade, mas uma positividade (mesmo que negativa). O erotismo para ele é, então, o processo contínuo da vida, potência.

O Erotismo, de Georges Bataille, é uma obra filosófica deste escritor francês que busca pensar a categoria erótica como uma marca da “vida interior” do homem. Assim, ele não é algo que se coloca “por fora”, mas que busca, por dentro, uma continuidade impossível.

Assim, a obra mapeia diversas questões do século XIX e XX, passando por instâncias que sempre tiveram representadas como sendo “humanas”, a fim de recoloca-las a partir do que ele chamaria de “significação”. Sua ideia de dispêndio improdutivo, ou seja, o desperdício, a perda, aquilo que se esvai para o nada é base para esse pensamento, na medida em que o gozo erótico é aquilo que não pode cessar de perder e que não deve, jamais buscar um acúmulo.  

O mais interessante está no fato de que, ao chegar no ponto máximo deste acúmulo improdutivo, Bataille aponta a poesia:

"A poesia conduz ao mesmo ponto que cada forma do erotismo, a indistinção, a confusão dos objetos distintos. Ela nos conduz à eternidade, nos conduz à morte e, pela morte, à continuidade: a poesia é a eternidade. É o mar partido com o sol."

Na primeira parte do livro chamada O interdito e a Transgressão, Bataille propõe o erotismo como esta presença interior, ou seja, uma tentativa de continuidade naquilo que é descontínuo na vida. Por isso, ele investiga os interditos ligados, por exemplo, à morte, à reprodução, assim como a transgressão – base para o erótico se colocar, na medida que coloca aquilo que é profano (ou des-sagrado) – ao lado de tabus como o assassinato, a guerra, e até a caça. Assim, ele se aproxima da ideia religiosa de sacrifício, algo que liga o sexo à morte. Neste sentido, é impossível Bataille deixar de pensar em alguns pontos essenciais para o pensamento ocidental: o cristianismo, a beleza, a prostituição e o casamento/orgia.  

Na segunda parte, temos uma série de estudos ligados ao erotismo. Alguns deles ligados ao trabalho, a sensualidade, o incesto, a santidade, a solidão. Há também uma longa parte em que se analisa o pensamento de Marquês de Sade, como base essencial para um tipo de erotismo desmedido – ligado á morte – exposto por Bataille.

Esta sensacional edição da Editora Autêntica contém diversas ilustrações, assim como prefácio do estudioso de Bataille, Raul Antelo, da UFSC, assim como um posfácio de Eliane Roberto Moraes. Ao fim, conta ainda com textos inéditos que revisam as ideias do livro e acrescentam questões ainda não tratadas. Uma obra imperdível para o pensamento do século XX, principalmente para quem pretende retomar o pensamento nietzschiano frente ao mundo cartesiano e tecnocrata.
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