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Persépolis, de Marjane Satrapi

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Sempre tive vontade de ler a autobiografia em quadrinhos de Marjane Satrapi, e felizmente este ano pude conhecer um dos melhores quadrinhos que já li.

Marjane apresenta sua família e mostra sua história através de suas memórias de infância. Esperta, inteligente, bem humorada e sensível, Marji, como é chamada, narra o contexto histórico e político do Irã, e através de seus olhos,  é possível conhecer os detalhes da Revolução Islâmica e da onda conservadora que invadiu o país.
A instauração do fundamentalismo religioso é narrada de forma muito didática, já que Marji tem pais politizados e revolucionários, com ideias completamente opostas ao rígido islã. 

Assim, mesmo conhecendo a história do ponto de vista de uma criança, é possível conhecer as regras que passam a vigorar na sociedade iraniana como  por exemplo a mudança nas vestimentas, a forma de se relacionar e  até mesmo  as características do conflito no oriente médio. 

Graças à condição financeira e à consciência política de seus pais, Marji consegue ter uma infância "blindada" até certo ponto, já que eles dão a ela total liberdade para se expressar. Ainda assim, o uso obrigatório do véu, os novos costumes e a posição que as mulheres ocupam na religião islâmica representam uma grande mudança no cotidiano da menina.
Por esta razão, logo o temperamento forte e os ideais revolucionários de Marji começaram a chamar a atenção alimentados pela conconscientização política de seus pais. Mas quanto mais Marji se destacava confrontando a religião e suas educadoras, mais escolas fechavam suas portas para ela.

Assim, temendo a castração da liberdade de expressão de Marji, e buscando assegurar sua educação laica, seus pais optam por enviá-la para estudar na  Áustria para que ela tenha liberdade e possa se afastar do fundamentalismo religioso do 
Irã.

Longe do carinho e da compreensão de seus pais, afastada de sua cultura e sem nenhuma referência familiar, Marji amadurece ao enfrentar inúmeras  dificuldades tão longe de casa. E assim que retorna constata que quanto mais o tempo passa, maior é o controle o número de restrições impostas pelo Islã, tornando a vida no país mais dramática a cada dia. A constante ameaça de bombas, a falta de liberdade e a intolerância intensificam as dificuldades na vida dos iranianos.
Apesar de toda dramaticidade da história, é possível se divertir em muitos momentos com a narração leve e engraçada de Marji, especialmente na infância. A pequena Marji cresce, amadurece e consolida a personalidade forte que seus pais tanto lutaram para preservar. 

O traço simples, monocromático e as linhas curvas lembram muito as xilografuras (ou gravuras em madeira)  de cordel. Tudo isto aliado ao belíssimo roteiro faz com que Persépolis seja uma história emocionante, intensa e dramática que encontra suavidade e poesia ela esperança de um futuro melhor. 



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