Um dos lançamentos mais aguardados da DarkSide Books de 2016é o livro The Kiss Of Deception, uma fantasia medieval voltada para o público young adult. Mesmo não lendo com frequência os livros do gênero, The Kiss Of Deception de Mary E. Person conseguiu me conquistar de cara pelo enredo e pela força feminina anunciada.
As páginas revelam a história de Arabella Celestine Idris Jezelia, que rejeita o nome pomposo para ser chamada apenas de Lia. A jovem de 17 anos é uma princesa predestinada a se casar com um príncipe de um reino vizinho apenas para atender aos interesses políticos de sua família, que visa estreitar relações com os Dalbrek.
É isto mesmo: como primeira filha e em respeito às tradições das famílias reais, Lia é usada como solução para acalmar os conflitos entre os reinos e selar uma possível paz entre os Morrigan e os Dalbreck. Mas não estamos falando de uma jovem qualquer: de personalidade forte e determinada, Lia não aceita facilmente o fardo e não concorda em se casar com um desconhecido apenas para satisfazer os interesses de sua família, fugindo momentos antes da cerimônia. A reação de Lia não é apenas uma afronta mas também é considerada uma grande humilhação tanto para os Dalbreck, quanto para os Morrigans.
Enquanto os reinos se desesperam e movem céus e terra em busca de Lia, a princesa não se importa em fugir sem olhar pra trás e é ajudada por Pauline, uma funcionária de sua casa que tem a sua idade e que é, acima de tudo, sua melhor amiga e confidente. Em um ato de amizade e lealdade Pauline ajuda Lia a despistar os rastreadores que saem na caça de ambas.
"Eu não sou um soldado no exército do meu pai."
Lia encontra refúgio e é acolhida em uma espécie de taverna ou hospedaria de uma amiga de Pauline, e lá vê a oportunidade de recomeçar uma nova vida, mas simples, mais livre e mais autêntica. No entanto, o que Lia não sabe é que sua fuga provocou a cobiça de um assassino contratado para matá-la e instigou a curiosidade do Príncipe abandonado no altar, que fica com seu ego ferido por não ter tido a mesma coragem da princesa de Morrigan. Ambos saem à procura de Lia até encontrá-la na hospedaria.
É interessante observar que a autora conseguiu apresentar os dois personagens misteriosos sem identificar diretamente quem é o príncipe e quem é o assassino, de forma que, quando ambos interagem com Lia, não sabemos quem é quem. O livro é narrado em primeira pessoa pela perspectiva de Lia na maior parte do tempo, mas também temos o ponto de vista do príncipe e do assassino.
Mary E. Person constrói o universo fantástico ao longo da história e não subestima o leitor: tudo é apresentado de forma delicada e discreta. Mesmo sem utilizar longas descrições, a autora consegue criar todo o enredo e cenário de fantasia com naturalidade. O enredo é rico em detalhes e ao longo do texto Mary deixa pequenas pistas e rastros sobre os dons, os mistérios, o universo fantástico, a briga de poder e sobre a identidade do príncipe e do assassino.
É importante frisar também a força de todas, eu disse TODAS as personagens femininas. Pra mim este é um ponto muito positivo e importantíssimo, especialmente em um momento em que se fala tanto em representatividade. Construir histórias com personagens femininas empoderadas enriquece a história e é fundamental para que haja identificação do público young adult. Mary E. Person não apenas deu vida ás suas personagens como também conferiu uma identidade singular a cada uma delas: The Kiss Of Deception apresenta mulheres fortes, determinadas e empoderadas.
A linguagem é direta, sofisticada e a narrativa é muito envolvente, prendendo do início ao fim. O mistério envolvendo a identidade do príncipe e do assassino não é forçado, tampouco apelativo, já que Person revela pistas ao longo do texto, dando dinâmica e movimento à história.
The Kiss Of Deception foi uma ótima surpresa e tem vários elementos que um bom livro deve ter: força, personagens bem construídos, texto dinâmico, enredo consistente, boas doses de mistério e romance na medida certa. Leitura excelente mais que recomendada!
